domingo, 13 de dezembro de 2009

*ANÁLISE ESTÉTICA DO FILME "MINHA AMADA IMORTAL" (1994)


Com base no texto a seguir e no filme “Minha Amada Imortal”, responda as questões:
1) Quais os principais aspectos estéticos que podem ser observados no filme? Considere tempo, espaço, música, expressões, enfim, pense no conjunto da obra.
2) Que cenas demonstram a percepção estética de Beethoven, ou seja, sua capacidade de “ouvir” de outras formas?
3) Beethoven se comunica por meio de sua música. Pesquise sobre as sinfonias do compositor e descreva o que a música procura transmitir. Há uma história? A música revela isso por si mesma?
4) Que significados podem ser atribuídos às sinfonias de Beethoven?
Texto Complementar:
"Escutar atrás de si o ressoar dos passos de um gigante". Esta foi a definição que o compositor Johannes Brahms deu à Nona Sinfonia de Beethoven [...]
Fonte: Geraldo Possendoro, neurocientista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).


01) Os principais aspectos estéticos observados no filme fazem parte de um conjunto de elementos que nos possibilita analisar qual o modo de percepção sensorial que cada um deles nos transmite. O primeiro destes, seria o cenário; que por ser um filme no qual se retrata o término do séc. XVII e início do séc. XVIII, tem todas as características que constroem ao espectador o momento histórico por onde se passa o enredo. Os móveis da casa de Beethoven aliados a parca iluminação desta, transpareciam a ideia de melancolia nos momentos de depressão e improdutividade artística pela que passa o protagonista (diferentemente do cenário das realizações das suas apresentações: lustres, muita luminosidade no ambiente e mobília fina são mostras da “grandeza” de tais apresentações musicais).
Além disso, ao apresentar a vida de Beethoven, homem já estabilizado financeiramente e de forte prestígio na alta classe social, os figurinos dos personagens transmitem a luxuosidade e a pompa com que viviam os amigos e/ou conhecidos do círculo de amizades do compositor. Um detalhe interessante a ser observado, é quando Joanne veste-se de preto e põe um véu da mesma cor no rosto para se encontrar com Beethoven no hotel; aquilo dá claros indícios do sentimento de insegurança e medo da personagem (dando a entender que sua discrição era mais do que proposital). Dessa forma, a linguagem por eles utilizada (sem gírias e seguindo uma norma urbana de prestígio) denota a quem assiste ao filme, mais características que definem não só os personagens como também a própria trama (seguem-se nessa linha de raciocínio, os movimentos corpóreos ora representando nervosismo ora mostrando o sentimento da dualidade entre o amor coibido e o ódio - vide as cenas que Beethoven encontra-se com a mãe de seu sobrinho).
Finalmente algo que não poderia faltar, diz respeito a um sentido que é muito presente em nossa análise da obra: a audição, justamente devido ao fato do filme ser muito musicalizado; sendo que o mais interessante é que toda a trilha do filme está condizendo com a cena, o que faz com que nossa interpretação fique mais fácil e até mesmo que nossa emoção aflore de acordo com a cena. As músicas no filme representam muito bem o que Beethoven está sentindo, é possível entender a mensagem que ele passa através de suas composições, é fascinante a forma como ele consegue contextualizar determinado momento pela melodia, pelo ritmo imposto à música.

02) Uma cena que nos chamou muita atenção foi no instante que Beethoven experimenta o piano novo de Júlia e então coloca seus ouvidos sobre o piano para sentir as vibrações. Começa-se ali uma das maiores representações do esforço do compositor em sentir sua músicas apenas pelas vibrações do som na madeira (é importante notar também como Ludwig van Beethoven consegue estimular vários outros sentidos para “ouvir” sua música, entre eles o visual ao transcrevê-la em suas partituras do mesmo modo como se a ouvisse sendo tocada).
Outra cena que merece destaque é a que ele apresenta a Nona Sinfonia (“Ode à Alegria”) a um grande público presente no salão de apresentações, pois mesmo que esta foi regida pelo maestro Michael Umlauf (pelo avançado estágio de surdez de Beethoven), é possível perceber que de forma emocionante ele faz uma retrospectiva da sua vida e assim a música vai, digamos, tomando corpo, tendo significando e sendo de alguma maneira perceptível ao compositor. Assim de acordo com a emoção das cenas de alguns momentos de sua vida que vão surgindo na memória, ele consegue chegar ao ápice de sua emoção e, sem que percebamos de imediato, conseguimos assimilar muito bem a mensagem e o contexto desta que ele nos quer passar.

03) Realmente é indiscutível a capacidade de comunicação através da música realizada por Beethoven. Por isso, a já citada Nona Sinfonia, que foi a musicalização do poema An die Freude de Schiller, representa muito bem o que se pode chamar de obra autobiográfica. Tal sinfonia é mais do “especial” à humanidade, pois além de ter sido a última escrita de maneira completa pelo compositor, sendo terminada em 1824 (a classificação dentro das normas musicais eruditas, a denominam como Sinfonia N° 9 em ré menor, op. 125, “Coral”) é também a primeira que se utilizou da voz humana (coral) com o mesmo destaque dado aos instrumentos.
Mais admirável ainda se torna a Nona Sinfonia, ao analisarmos que ela inicia-se com um som quase imperceptível (um som bem baixo, quase inaudível), há uma pequena introdução e já logo se desenvolve com movimentos rápidos, fortes e altos na melodia. Assim, o que fica muito claro, através do filme, é que com a Nona Sinfonia, Beethoven consegue expressar um desejo de liberdade (principalmente quando os sons dos instrumentos se alteram) e de perfeição e grandeza (ao mostrar a imensidão incontável e bela das estrelas no céu). Ainda sobre a obra prima do compositor, pode-se afirmar que com seus movimentos (1° Allegro ma em tropo, 2° Molto Vivace, 3° Adagio molto e cantabile e 4° Presto: Allegro assai e ao final o coral com sua participação magistral) ele consegue mesclar uma gama de emoções jamais repetida por outra composição erudita (inclusive nos dando a ideia que já a ouvimos, de que ela nos é familiar).
Não menos merecedora de deferência, a Terceira Sinfonia de Beethoven; Eroica (citada no filme) nos mostra o momento sócio-histórico que vivia o Velho Continente naquela época (cabe aqui uma rápida citação do nome do filósofo Hegel que dizia que arte par ter significado precisava ter antes de tudo expressão de histórico-cultural de seu tempo). Beethoven inicialmente admirava muitíssimo Napoleão Bonaparte, mas ao saber que este havia se tornado imperador, Beethoven modificou radicalmente sua obra espantando o público de maneira positiva ao ouvir sua apresentação (inclusive, mesmo de forma sucinta, é necessária a explicação de que os motivos que fizeram tal admiração e espanto no mundo da música se devem às inovações na composição e execução da sinfonia entre os anos de 1803 e 1805). Assim, como já dito, percebemos ser inevitável conhecer um pouco da vida e da história de Ludwig van Beethoven, porém suas músicas declaram muito que marcou a sua vida e época (mais uma característica que define suas obras como autobiográficas, que falam de sua vivência com um pai agressor e indiferente e outros aspectos ligados aos seus amores e paixões).

04) Ademais do que foi dito anteriormente, de tudo o que vemos nas sinfonias do Beethoven é possível analisar que muita emoção, verdade, e coragem para quebrar padrões existiam em suas obras. Aliás, é por isso que ficou consagrado como um dos maiores músicos da história musical da humanidade, devido sua originalidade, seu amor pelo que fazia. Sua originalidade reflete-se até mesmo nas composições da tão mencionada Nona Sinfonia e Terceira Sinfonia, ao permear tais obras com evoluções e arranjos de notas impensados para a época (o que às vezes o deixa em um meio termo de clássica e romântica).
Os significados das músicas de Beethoven alcançam níveis da esfera humana e artística, que em dezesseis de outubro do ano passado, a Nona Sinfonia foi declarada Patrimônio da Humanidade (pela Unesco em “Memórias do Mundo”). Segundo matéria publicada no portal noticioso Paraná On-line, devido à idéia da alegria e da fraternidade que une as pessoas em todo o mundo transmitida através da obra-mestra do compositor. Em suma, podemos afirmar que é impossível apenas “ouvir” de forma superficial as obras de Beethoven: elas intrinsecamente trazem junto de si significados que nos fazem refletir sobre a vida, que nos fazem sentir a vida em todas as suas particularidades da emoção.
LOPES DA SILVA, Anderson
*Análise Estética escrita no dia 30/09/2009 para a disciplina de ESTÉTICA DA COMUNICAÇÃO, ministrada pela Prof. mestranda Thais P. P. Jerônimo Duarte.

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