sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

*A INTOLERÂNCIA NO PÓS 11 DE SETEMBRO, SOB À ÓTICA DE "CRASH – NO LIMITE" (2004)



A película de Paul Haggis conseguiu não só agradar aos críticos e conquistar o Oscar (2006), como também trouxe à tona uma discussão presente, mas pouco olhada sob o ângulo que Haggis o mostra em Crash – No Limite (2004).

Para esclarecer melhor, é necessário o entendimento de que o filme mostra o encontro de vários personagens totalmente diferentes nas ruas de Los Angeles: uma dona-de-casa e seu marido, promotor público, da alta sociedade; um lojista persa; um casal de detetives da polícia - ele afro-americano, ela latina -, que também são amantes; um diretor de televisão afro-americano e sua esposa; um mexicano especialista em chaves; dois ladrões de carros da periferia; um policial novato; e um casal coreano de meia-idade. Só por essa primeira visão já se pode ter ideia da amplitude de culturas e etnias que ali se encontram.

Desse modo, mesmo perdendo muito pela brevidade da síntese, o filme desenrola-se de uma maneira onde quase todos se encontram nas 36 horas que se passam dentro da diagese do filme. Tanto o começo quanto o filme de Crash se dão por cenas onde ocorrem acidentes (o nome crash em inglês quer dizer estrondo, o que poderia ser relacionado ao barulho do acidente), tais acidentes nos remetem a questão da intolerância não só no trato com as pessoas, mas a todo tipo de intolerância imaginável: social, religiosa, racial, entre outros.

A trama é fragmentada em vários núcleos narrativos, todos imersos em sua apreensão de mundo e em seus preconceitos próprios.Há o caucasiano com preconceito em relação aos negros e latinos; há os negros com preconceitos dos brancos e dos próprios negros; há árabes (categorização que inclui, no filme, todos os muçulmanos, mesmo que a maioria islâmica do mundo não seja falante do árabe ou nascida na Arábia Saudita) com preconceito dos latinos; há os chineses, os porto-riquenhos, os tailandeses, os pobres, os ricos, os bandidos e os policiais.

Crash demonstra, com um realismo surpreendente, que preconceito e discriminação não são um "privilégio" dos brancos burgueses, que todos nós, independentes de raça e classe social, já possuímos uma pré-compreensão do mundo que nos circunda e que é através dela que escolhemos nossos círculos de amizade, os ambientes que frequentamos e as pessoas que costumamos evitar e tudo isso leva a capacidade de julgar o próximo e lidar com ele através deste julgamento.

Para justificar o título dado a estes comentários, merecem destaque algumas considerações. Entre elas podem-se destacar as problemáticas socioeconômicas e culturais advindas após o terrível atentado terrorista contra as Torres Gêmeas no World Trade Center (EUA) no dia 11 de setembro de 2001.



A primeira delas refere-se à não tão longínqua Guerra Fria dos EUA versus URSS, que foi na verdade uma guerra ideológica e nem por isso deixou de provocar profundas transformações no mundo. Assim, com os ideias socialistas derrotados, a grande potência dos Estados Unidos (capitalista por excelência) passou a ser um símbolo de poderio nunca antes visto, inabalável assim como sua economia liberalista e a globalização comercial e financeira que se erguia.
Desta maneira, apesar das questões etnográficas e antropológico-sociais não deixarem de existir, foi apenas no pós 11 de setembro que a tão aclamada democracia americana e sua incontestável influência dominadora, deixou mostrar uma face ainda inobservável: a fragilidade do sistema capitalista. Para que a intolerância em toda sua multiplicidade de significados surgisse, não demorou muito.


Crash exemplifica e ilustra de uma perpesctiva elogiável o tema tratado aqui, trazendo uma mensagem que outros até poderiam dizer ser simplista ou ingênua, entretanto mesmo sendo caracterizada desse modo, ela não deixa de transparecer um fio de esperança que ainda resta na humanidade.




LOPES DA SILVA, Anderson


*Resenha crítica escrita como forma de avaliação para a disciplina de Comunicação e Cultura Brasileira, ministrada pelo Prof. Esmair Camargo Lopes

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